domingo, 13 de junho de 2010

Etanol


O álcool é uma das substâncias psicoativas mais consumidas pela sociedade, sendo o seu consumo estimulado em algumas situações, como festas e comemorações. As bebidas alcoólicas são consumidas pelo homem desde o início da história, com aos primeiros relatos de cerca de 6.000 anos atrás, no antigo Egito e Babilônia. Na Idade Média quando foi introduzida pelos árabes a técnica de destilação na Europa, acreditava-se que o álcool era um elixir da vida, um remédio para quase todas as doenças, como pode ser percebido pelo origem galênica do termo whisky que significa "agua da vida".

Desde o início do seu consumo por todas as diferentes sociedades que o utilizavam, os efeitos do álcool na alteração do comportamento já eram conhecidos. Por essa razão o consumo de álcool sofreu restrições que tentavam controlar ou previnir o uso indevido, ainda assim o seu uso continua sendo o mais elevado entre todas as substâncias psicoativas. Estima-se que no Brasil, uma em cada dez pessoas tenha problemas devido ao uso abusivo de álcool, prevalencia alta e que poucas patologias igualam.

No Brasil, antes da chegado dos portugueses, os índios produziam o cauim (do tupi "ka'wi"), uma bebida fermentada preparada a partir da mandioca cozida ou de sucos de frutos como o caju ou milho, que eram mastigados e depois misturados e fervidos em um vasilhamne especial de cerâmica. Com a chegada dos portugueses foram trazidos os vinhos, cervejas, aguardentes e outros destilados, dealto teor alcoólico e suscetíveis a se incandescer, e que alguns colonizadores utilizavam para ameaçar os índios e conquistar suas terras, daí o termo "agua de fogo".

A instalação dos primeiros engenhos para produção de açúcar de cana e aguardente tornou os destilados nacionais, obtidos da fermentaão e destilação da borra do melaço, mais acessíveis para a população de menor poder aquisitivo. Com a popularidade alcançada em todo país e pelo preço acessível, a cachaça, bebida de alto teor alcoólico, contribuiu muito para o agravamento do consumo de álcool pela população brasileira. As bebidas fermetadas são obtidas pela produção do etanol resultande da quebra de açúcares feita por alguns microorganismos, as leveduras.

O etanol é uma substância de baixo peso molecular, hidrossolúvel, sendo rapidamente absorvida no estômago (20%) e intestino (80%). A concentração plasmática máxima é atingida entre 30 a 90 minutis após a ingestão. O álcool também pode ser absorvido pela aspiração de seu vapor. A absorção do álcool é rapida no início do uso e declina posteriormente, mesmo que a concentração no estômago ainda esteja alta. A distribuição do etanol também é rápida, com os níveis nos tecidos semelhantes aos níveis plasmáticos. Por ser hidrossolúvel, o etanol distribui-se por praticamente todos os tecidos, intra ou extracelularmente, variando de acordo com a composição hidríca dos tecidos. O etanol se difunde rapidamente atraves da barreira hematencefálica, atingindo o sistema nervoso central. É possivel estabelecer uma relação entre os níveis plasmáticos e efeitos comportamentais, que é mais visível quando a alcoolemia está em ascensão, sendo menos evidente na fase de declínio.

A principal via de biotranformação do álcool envolve a enzima álcool desidrogenase (AD), uma enzima que contém zinco e que catalisa a conversão de álcool em acetaldeído. Há um polimorfismo genético da álcool desidrogenase e da aldeído desidrogenase (AID), que é a enzima responsável por catalisar a oxidação do aldeído. A deficiência de uma variante de AID está associada ao acúmulo progressivo de acetaldeído e, conseuentemente, aos sintomas adversos após a ingestão de álcool. O álcool também pode ser biotransformado através do sistema de oxidação micrôssomico (SOM).
Em baixas concentrações de etanol, a AD parece ser o principal sistema oxidante, enquanto o SOM desempenha papel importante em concentrações mais altas, especialmente em indivíduos que fazem uso regular de álcool. Uma terceira via de biotransformação do etanol é a catalase, que participa com, no máximo, 10% da biotransformação. No interior dos peroxissomas, o etanol é oxidado com a formação de aldeído, sendo necessário o consumo de peróxido de hidrogênio que é transformado em água.
A produção de peróxido de hidrogênio pelo hepatócito é muito lenta, o que limita a atividade da catalase. O aldeído resultante das três vias de biotransformação do etanol é oxidado a acetato por uma reação catalisada pela aldeído desidrogenase (AID), que é encontrada na matriz da membrana externa, microssomas e citosol do hepatócito. O acetato resultante desta reação é convertido em Acetil-CoA, com desdobramento de ATP em AMP, este último pode ser usado para a produção de um novo ATP ou ser degrado em purinas e ácido úrico. A Acetil-CoA entra no ciclo de Krebs, sendo convertida em CO2 e água.
A maior parte do etanol não oxidado é excretado pelos rins e pulmões, sendo uma pequena fraçãoencontrada sem secreções como suor e saliva. O álcool aumenta a inibição sináptica mediada pelo GABA e pelo fluxo de cloreto, sendo esta ação também estudada como mecanismo de ação.

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